A GUERRA DO CÃO VADIO

Esta é uma daquelas histórias bizarras a que o decurso do tempo vai paulatinamente retirando carga dramática e quase permite desfrutar com um leve sorriso nos lábios.
Tudo aconteceu há exactamente um século, no dia 18 de Outubro de 1925, numa região próxima do território a que hoje chamamos Macedónia do Norte.
Era notória, desde há muito, a tensão entre a Bulgária e a Grécia, dois países vizinhos remoendo velhas disputas territoriais mal resolvidas, ambos com destacamentos militares em permanente estado de alerta junto à fronteira comum.
Nesse dia, por sinal um domingo, um jovem soldado grego deixou escapar o seu cão e logo correu, bosques adentro, no seu encalço.
Inadvertidamente, ou não, acabou por cruzar a linha de fronteira. Pouco depois, foi abatido por uma patrulha búlgara, que terá precipitadamente interpretado o intruso como ponta de lança de um ataque inimigo.
Agravado pela afronta, o governo grego mobilizou as suas tropas, que penetraram no território búlgaro até à cidade de Petrich.
O conflito armado só terminaria depois de a Bulgária ter recorrido, com ganho de causa, à Liga das Nações (a organização internacional que precedeu a ONU): dez dias depois da invasão, o exército agressor recolheu a penates e a Grécia foi obrigada a esportular 45 mil libras esterlinas a título de reparação à nação vizinha.
Como balanço final das hostilidades, houve a registar 52 mortos (sobretudo civis) do lado búlgaro e estima-se que uma centena da outra parte.
Do ladino cão grego nunca mais houve notícia.
Terá – quem sabe? – encontrado uma graciosa cadelita búlgara, pela qual caiu de amores.
E – porque não? – tiveram ambos muitos cachorrinhos com dupla nacionalidade, que nunca saberão que o seu progenitor é bem mais que um mero vira-latas, porque deu nome a um conflito internacional: “The War of the Stray Dog” (A Guerra do Cão Vadio).
Zépestana | 18 out 2025