AS FRONTEIRINHAS

À imagem do que se passa com o calçado, as peças de roupa e os candidatos a Belém, há fronteiras de todos os tamanhos, desde o XS (Extra Small) ao XXL (Double Extra Large).
A extensão da fronteira terrestre portuguesa, que se prolonga por 1214 quilómetros, coloca-nos numa posição mediana da tabela.
Há países com fronteiras terrestres francamente mais alongadas.
Mas não faltam, em contrapartida, alguns outros dotados de fronteiras com menor escala.
Mais precisamente, há 29 fronteiras internacionais com extensão inferior a 100 quilómetros.
A mais pequena, entre as mini-fronteiras terrestres do mundo, situa-se no norte de África, mede apenas 87 metros e separa a soberania espanhola da soberania marroquina. Dito de outro modo, destina-se a apartar o território de Marrocos do chamado Penedo de Vélez de la Gomera, possessão espanhola desde 1564.
Entre as muitas singularidades ligadas a esta linha fronteiriça terrestre, destaca-se a rara circunstância de ela resultar de um capricho da natureza. De facto, o Penedo sempre foi, até há menos de um século, um ilhéu rochoso, muito próximo do continente africano, dele distanciando cerca de cem metros e facilmente alcançável a nado.
Em 1930, porém, um forte sismo provocou uma inesperada acumulação de areias, formando um estreito istmo que passou a unir a ilhota a terra firme. E foi assim, de um dia para o outro, que se converteu uma ilha em península e se transformou uma fronteira marítima em fronteira terrestre. Faltando acrescentar que esta fronteira não pode ser cruzada, em qualquer um dos sentidos, pois não comporta qualquer posto de controlo fronteiriço.
A Espanha, esclareça-se de caminho, mantém historicamente territórios no norte de África, desde os mais conhecidos e populosos (Ceuta, Melilla) até às minúsculas possessões, com estatuto de “praças de soberania”, do Penedo de Vélez de la Gomera, da ilha de Perejil, do rochedo de Alhucemas e das Ilhas Chafarinas. Refira-se que, como partes de Espanha, todos estes territórios são igualmente parte da União Europeia.
A área do Penedo de Vélez de la Gomera equivale, em números redondos, à de dois campos de futebol. Mais pequeno do que a da nossa ilha do Pessegueiro, nas cercanias de Porto Covo, perguntar-se-á: para que o querem os espanhóis? Querem-no (para isso ali mantendo uma pequena guarnição militar) pela sua importância estratégica no controlo das rotas marítimas no estreito de Gibraltar e como ponto de apoio a operações de segurança no mediterrâneo ocidental.
Uma outra fronteira de curtíssima extensão é aquela que, no rio Zambeze, separa a Zâmbia do Botsuana. Não vai além dos 150 metros, equivalentes a três quartos do comprimento da Rua do Carmo, em Lisboa.
Ambas as referidas mini-fronteiras caberiam com largueza no Portugal dos Pequenitos.
Já o mesmo não se poderá dizer das fronteiras que separam o Estado do Vaticano do território italiano, que discretamente se estendem por 3,2 quilómetros, entre as chamadas Muralhas Leoninas de Roma e o círculo de mármore, no solo, onde confluem os dois braços da colunata de Bernini, na Praça de São Pedro. O Vaticano é uma realidade jurídico-política sui generis, sem paralelo na política e no direito. Tendemos frequentemente a esquecer que se trata de uma entidade de direito internacional, soberano e independente desde 1929, com fronteiras próprias (ainda que não ostensivas) e um chefe de Estado, que é o Papa.
Que outras exíguas fronteiras merecem menção neste concurso de anões?
As do Mónaco com a França (4,4 kms); da Dinamarca (Gronelândia) com o Canadá (1,2 kms); de São Marino com a Itália (39 kms); de Andorra com a França (56,6 kms) e com a Espanha (63,7 kms); do Liechtenstein com a Áustria (34,9 kms) e com a Suíça (41,1 kms); e do Catar com a Arábia Saudita (60 kms).
Apresentadas que estão as fronteirinhas, reservo as fronteironas para uma próxima crónica.
Zépestana | 14 nov 2025