CANÇÕES DE FRONTEIRA
Pela sua própria natureza, fundamento e simbolismo, as fronteiras desencadeiam uma vasta gama de emoções, que variam consoante o contexto, o momento, as vivências próprias e o olhar de cada pessoa.
A fronteira pode ser percepcionada como intimidante, mas é igualmente capaz, para quem busca refúgio, de gerar alívio e esperança numa vida melhor. Ou de suscitar nostalgia pelo abandono de uma terra que se deixa para trás.
Do receio à melancolia, da curiosidade ao orgulho, da confiança à revolta, do entusiamo à frustração, é amplo o espectro de emoções e sentimentos provocados por uma fronteira e pelo que nela sucede.
Ora, sabendo-se que a matéria-prima usada pelos autores de canções são justamente as emoções, os sentimentos e as experiências humanas universais, não surpreende que muitos deles busquem inspiração na temática das fronteiras.
E que outros, mais politicamente engajados, se sirvam das canções para expressar as suas opiniões sobre a fronteira enquanto instrumento de poder e mecanismo de controlo dos fluxos de pessoas.
Entre estes últimos estará decerto o costa-marfinense Tiken Jah Fakoly, autor da canção “Ouvrez les frontières” (“Abri as Fronteiras”), em compassado ritmo de reggae jamaicano. Mas também Barbra Streisand, que em 2018 lançou uma canção (“Walls”) para contestar a política migratória securitária de Donald Trump (“Build the Wall”), e na qual se escuta:
“We should be building bridges to a better dayWhere no walls would stand in the way(…) We would have that better dayIf all the walls came tumbling down” |
(“Devíamos construir pontes para um dia melhorOnde nenhum muro estaria no caminho(…) Teríamos um futuro melhorSe todos os muros desabassem.”) |
De entre as muitas canções sobre a temática das fronteiras, o título de mais escutada pertence, indiscutivelmente, a Elton John, autor (com Bernie Taupin) de “Nikita”, lançada em Outubro de 1985, há precisamente quarenta anos, e que relata o amor impossível e uma paixão sem futuro: a de um homem ocidental, proveniente do mundo liberal e capitalista, por uma bonita guarda de fronteira da socialista e filo-soviética República Democrática Alemã (RDA).
É preciso recuarmos alguns anos para melhor se entender a situação.
Na sequência da II Guerra Mundial, a cidade de Berlim constituía, desde 1949, um enclave político ocidental cercado pela RDA. A partir de 1961, um extenso muro, de 155 quilómetros, foi erguido para separar, de forma drástica, os territórios da RDA e da RFA (República Federal Alemã), apenas interrompido por sete diferentes postos fronteiriços.
No videoclipe que promove a canção, Elton John aproxima-se dum posto de fronteira, sentado num luxuoso descapotável Bentley Continental, e apresenta o passaporte a uma guarda de fronteira.
Ao ver recusada a entrada em Berlim Oriental, lamenta o desfecho do romance:
“Oh, Nikita, you will never know
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(“Nikita, nunca saberás
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